terça-feira, 6 de março de 2012

Pré-Modernismo - 1902-1922


Convencionou-se chamar de Pré-Modernismo o período que vai de 1902, ano da publicação do livro 'Canaã', de Graça Aranha, até 1922, ano da Semana de Arte Moderna.
Durante esse período, coexistem em nossa literatura duas tendências básicas: A tendência conservadora, marcada pelas produções poéticas Parnasianas e Simbolistas e pela prosa tradicionalista de Rui Barbosa, Coelho Neto, Joaquim Nabuco, entre outros; e a inovadora, caracterizada pela incorporação de aspectos da realidade brasileira ao conteúdo das obras literárias. Destacam-se por utilizarem essa temática Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha.

CONTEXTO HISTÓRICO

No período Pré-modernista identificamos a existência de grupos e classes sociais com interesses bastante conflitantes: num extremo, estavam situados os proprietários rurais de São Paulo e Minas Gerais, representantes de idéias extremamente conservadoras e também saudosistas. Em outro extremo os operários, influenciados por idéias revolucionárias e anarquistas, assumiam atitudes de franca oposição às elites. Entre ambos se situava a burguesia industrial emergente em São Paulo e no Rio de Janeiro, que se mostrava receptiva às idéias reformistas, além de profissionais liberais e setores do exército, francamente favoráveis às mudanças e às intervenções das correntes européias. Neste período ocorreram eventos importantes no país e a ocorrência de agitações populares, como a de Canudos, narrada por Euclides da Cunha na terceira parte de seu livro 'Os Sertões'.
Todas essas agitações contribuíram para os questionamentos manifestados na Semana de Arte Moderna de 1922.
CARACTERÍSTICAS

Embora os representantes do Pré-Modernismo apresentem traços individuais e estilos próprios, há neles alguns pontos em comum:

- as obras apresentam uma ruptura com o passado, com o academismo e com os modelos preestabelecidos. As obras são inovadoras;

- algumas obras são regionalistas;

- verifica-se a presença de alguns tipos humanos marginalizados pela elite: o sertanejo nordestino, o mulato, o caipira;

- o sertão nordestino, os caboclos do interior, dos subúrbios , enfim, a realidade brasileira não-oficial surge como tema de inúmeras obras do período.

AUTORES PRÉ-MODERNISTAS

EUCLIDES DA CUNHA - Órfão aos três anos, é criado por suas tias. Matricula-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Cursa a escola Superior de Guerra. Após uma interrupção, forma-se engenheiro. Mais tarde Euclides da Cunha se torna colaborador do jornal Estado de São Paulo, que o envia, em 1897, a Canudos (Bahia) como correspondente; fornece ao jornal as informações sobre a rebelião que já eclodira.

Principais obras: 'Os Sertões' (1902); 'Peru versus Bolívia' (1907); 'Contrastes e Confrontos' (1907), 'À Margem da História' (1909).

A obra mais importante de Euclides da Cunha é 'Os Sertões', porém não é ficcional. O autor deu a ela um caráter sociológico. O núcleo da obra é a campanha de Canudos movida pelas forças republicanas contra os jagunços liderados pelo fanático Antônio Conselheiro. Sua obra está totalmente dentro dos princípios científicos do final do século IX, o determinismo, que pode ser esquematizada assim: 

- Determinismo Geográfico - o homem como produto do meio natural, o papel preponderante do clima na formação do meio, a impossibilidade civilizatória em zonas tórridas, como o sertão;

- Determinismo Racial - os cruzamentos raciais enfraquecem a espécie, a miscigenação conduz os homens à bestialidade e a toda a espécie de impulsos criminosos, o sertanejo é o caso típico de hibridismo racial;

- Determinismo Histórico - uma cultura, como a sertaneja, que por ausência de contato não reproduz o 'progresso' e as revoluções tecnológicas, operadas nos países centrais, permanecerá historicamente atrasada, tendendo a 'anomalias', a exemplo de Canudos.

Dentro do esquema determinista e positivista, a obra se divide em três partes, delimitadas a rigor: "A terra" - "O homem" - "A luta". Na primeira parte, temos a visão cientificista do Naturalismo: o meio geográfico opressor, com sua vegetação pobre, o chão calcinado, a imobilidade e repetição da paisagem árida. Na segunda, a questão racial avulta, interpenetrando-se com as influências mesológicas. Apresenta o negro, o branco e o mulato, além de Antônio Conselheiro, o messias fanático. Há a descrição física e psicológica do sertanejo, seus costumes, seu misticismo. A terceira parte da obra expõe com rigor jornalístico as investidas do exército contra Canudos. O ataque e vitória das forças do governo, o massacre e o fanatismo religioso. 'Os Sertões' é uma mescla de romance e ensaio científico, relato histórico e reportagem jornalística, o que torna impossível enquadrá-lo nos limites de um gênero literário. Trata-se de uma obra de exceção. Esta "epopéia às avessas" distingue-se do mero documento com veleidades científicas pela presença e uso intencional da linguagem artística. O estilo é trabalhado, pomposo, enfático, cheio de antíteses e comparações. É mais retórico nas passagens "científicas" e mais simples nas outras partes.

GRAÇA ARANHA - Diplomata, ensaísta, romancista e crítico brasileiro, Graça Aranha formou-se em Direito. Distinguiu-se como delegado do Brasil no Congresso Pan-Americano. Em missões diplomáticas, conviveu com Joaquim Nabuco, cuja amizade, aliada à publicação de um excerto do romance 'Canaã', valeu-lhe a eleição precoce para a Academia Brasileira de Letras, recém fundada. Graça Aranha participou da Semana de Arte Moderna, fato que motivou seu desligamento da Academia Brasileira de Letras.

Principais obras: 'Canaã' (1902); 'A Estética da Vida' (1921). A sua principal obra, 'Canaã', se trata de um romance de tese, onde o autor focaliza uma comunidade de imigrantes alemães do Espírito Santo, discutindo a atitude do imigrante. Dois jovens alemães debatem permanentemente: Milkau prefere a integração, a harmonia, o amor; Lentz pretende a dominação dos povos mestiços pelos arianos, portanto a lei do mais forte. O romance é bastante denso, repleto de cenas de violência e dramaticidade, com uma linguagem por vezes impressionista.

LIMA BARRETO - Aos seis anos fica órfão de mãe. Faz o curso secundário e ingressa na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1897. Abandona o curso e vai trabalhar no Expediente da Secretaria da Guerra, para sustentar a família. Trabalha depois como jornalista no Correio da Manhã. Lima Barreto leva vida atribulada e entrega-se à boêmia, em virtude da loucura do pai e do seu complexo de cor. Esses problemas pessoais Lima Barreto transfere para seus livros. Daí o caráter autobiográfico de seus personagens.
Principais obras: 'Recordações do Escrivão Isaías Caminha' (1909); 'Triste Fim de Policarpo Quaresma' (1911); 'Numa e Ninfa' (1915); 'Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá' (1919); 'Os Bruzundangas' (1923); 'Clara dos Anjos' (1924) e 'O Cemitério dos Vivos' (1957).

Características do autor: linguagem crônica, às vezes um tanto displicente; presença permanente da paisagem suburbana do Rio de Janeiro; presença emocional do autor, traduzida pela denúncia do preconceito racial, da opressão da gente simples do povo e a fixação da inconsistência moral dos poderosos.

MONTEIRO LOBATO - Nasceu em Taubaté. Formado em Direito, exerceu brevemente a profissão. Além disso foi fazendeiro, editor, adido comercial nos Estados Unidos. A sua luta pelo petróleo valeu-lhe a prisão e o exílio.

Principais Obras: A obra completa de Monteiro Lobato está organizada em duas séries:
- 1ª série - literatura em geral, em 13 volumes: 'Urupês', 'Cidades Mortas', 'Negrinha', 'Idéias de Jeca Tatu', 'O Escândalo do Petróleo', 'Ferro', entre outros;

- 2ª série - literatura infantil, em 17 volumes: 'Reinações de Narizinho', 'Emília no País da Gramática', 'Aritmética da Emília', 'O Poço do Visconde', 'Geografia de Dona Benta' e outros

Características do autor: atitude política progressista e atitude literária conservadora ("Paranóia ou Mistificação?"); preferência pelo conto, ambientados no interior paulista; denúncia social, principalmente nos livros 'Urupês' e 'Cidades Mortas'; presença de forte sentimentalidade; cenas macabras; ironia; o tema predominante é a decadência da zona rural paulista, o atraso e o abandono da população interiorana.

AUGUSTO DOS ANJOS - Filho de advogado paraibano, seguiu a mesma carreira do pai, formando-se em Direito. Mas jamais exerceu a profissão, tornando-se professor de língua portuguesa. Morreu muito jovem atacado de pneumonia.

Principal obra: 'Eu'. Augusto dos Anjos é um caso à parte na poesia brasileira. Autor de grande sucesso popular, foi ignorado pela crítica, que o julgou mórbido e vulgar. Possui tendências Parnasianas e Simbolistas. Esse autor pode ser considerado o verdadeiro Pré-Modernista pois ele soube antecipar uma série de procedimentos que as vanguardas sacramentariam em 22: a linguagem corrosiva, o coloquialismo e a incorporação à literatura de todas as 'sujeiras' da vida.

Características do autor: temática científica e filosofante; linguagem científica tomada ao Evolucionismo; pessimismo; angústia moral; revolta; presença constante dos temas morte, doença, dor, cães e o próprio mundo vegetal.

SIMÕES LOPES NETO - Descendente de estancieiros, nasceu em Pelotas e passou a infância no campo. Com treze anos vai para o Rio de Janeiro, estudando no Colégio Abílio. Mais tarde, entra para a Escola de Medicina, abandonando-a no 3º ano e voltando a Pelotas. Ali, dedica-se a uma série de negócios malogrados. Atraído pelo jornalismo, colaborou com periódicos de sua cidade. Morreu em Pelotas em total obscuridade literária.

Principais obras: 'Cancioneiro Guasca' (1910); 'Contos Gauchescos' (1912); 'Lendas do Sul' (1913); 'Casos do Romualdo' (1952). Simões Lopes Neto se caracteriza pela linguagem regional, marcada pela oralidade, não apenas no diálogo, mas também na narração, graças ao artifício de criar um narrador fictício, o velho gaúcho Blau Nunes, que toma a palavra e conta as histórias. Em alguns momentos em 'Lendas do Sul' a linguagem se torna solene. A linguagem é viva e cheia de dialetismos, o que, em parte, dificulta a leitura. O linguajar gauchesco é reproduzido pelo escritor, não se tornando pitoresco. O interesse pelo documento leva Simões Lopes Neto a elaborar uma coletânea de poesias populares: 'Cancioneiro Guasca', e também à copilação da mitologia rio-grandense, 'Lendas do Sul', em que Boitatá, a Salamanca do Jarau e o Negrinho do Pastoreio são revividos pelo estilo oral do narrador pelotense.

Bibliografia

Literatura Universal – LOGON – Editora Multimídia

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