A ONÇA, O VEADO E
O MACACO
(Sergipe)
Uma vez, amiga onça convidou
amigo veado para ir comer leite em casa de um compadre, e amigo veado
aceitou. No caminho tinham de passar um riacho, e a onça enganou o veado,
dizendo que ele era muito raso, e não tivesse medo. O veado meteu o peito e
quase morreu afogado. A onça passou por um lugar mais raso e não teve nada.
Seguiram. Adiante encontraram umas bananeiras, e a onça disse ao veado:
"Amigo veado, vamos comer bananas; você suba, coma as verdes, que são as
melhores, e me atire as maduras". Assim fez amigo veado, e não pode
comer nenhuma, e a onça encheu a pança. Seguiram; adiante encontraram uns trabalhadores
capinando uma roça. A onça disse ao veado: "Amigo veado, quem passa por
aqueles trabalhadores deve dizer: - Diabo leve a quem trabalha!" Assim
foi; quando o veado passou pelos homens gritou: "Diabo leve a quem
trabalha!" Os trabalhadores largaram-lhe os cachorros, e quase o
pegaram. A onça, quando passou, disse: "Deus ajude a quem
trabalha!" Os homens gostaram daquilo, e a deixaram passar. Adiante
encontraram uma cobrinha de coral, e a onça disse: "Amigo veado, olhe
que linda pulseira para você levar à sua filha!" O veado foi apanhar a
cobra, e levou uma dentada; pôs-se a queixar-se da onça, e ela lhe respondeu:
"Quem manda você ser tolo!?"
Afinal chegaram à casa do compadre da onça; já era tarde e foram dormir. O
veado armou sua redinha num canto e ferrou no sono. Alta noite, a onça se
levantou devagarzinho de pontinha de pé, foi ao curral das ovelhas, sangrou
uma das mais gordas, aparou o sangue numa cuia, comeu a carne, voltou para
casa, largou a cuia de sangue em cima do veado para o sujar, e foi-se deitar.
Quando foi de pra manhã o dono da casa se alevantou, foi ao curral e achou
uma ovelha de menos. Foi ver se tinha sido a onça, e ela lhe respondeu:
"Eu não, meu compadre, só se foi amigo veado, veja bem que eu estou
limpa". O homem foi à rede do veado e achou-o todo sujo de sangue.
"Ah! Foi você, seu ladrão!?" Meteu-lhe o cacete até o matar. A onça
comeu bastante leite e foi-se embora.
Passados tempos, ela tomou um capote emprestado ao macaco e o convidou para
ir comer leite em casa do mesmo compadre. O macaco aceitou e partiram.
Chegando adiante, encontraram o riacho, e a onça disse: "Amigo macaco, o
riacho é raso, e você passe adiante e por ali". O macaco respondeu:
"Ah! Você pensa que eu sou como o veado que você enganou? Passe adiante
senão eu volto..." A onça, que viu isto, passou adiante. Quando chegaram
nas bananeiras, ela disse: "Amigo macaco, vamos comer bananas; você coma
as verdes, que são as melhores, e me atire as maduras". –
"Vamos", disse o macaco, e foi logo se atrepando. Comeu as maduras
e atirou as verdes para a onça. Ela ficou desesperada, e dizia: "Amigo
macaco, amigo macaco!… Eu te boto a unha!…" – "Eu vou-me embora se
você pega com histórias". Quando passaram pelos trabalhadores, a onça
disse: "Amigo macaco, quem passa por aqueles homens deve dizer: Diabo
leve a quem trabalha; porque ali eles são obrigados" O macaco, quando
passou, disse: "Deus ajude a quem trabalha". Os trabalhadores
ficaram satisfeitos, e o deixaram passar. A onça passou também. Adiante
avistou uma cobrinha de coral, e disse ao macaco: "Olhe, amigo, que
lindo colar para sua filha! Apanhe e leve". – "Pegue você!" E
não quis o macaco pegar. Afinal chegaram à casa do compadre da onça e
foram-se deitar porque já era tarde. O macaco de sabido armou sua rede bem
alto, deitou-se e fingiu que estava dormindo. A onça, bem tarde, saiu de
pontinha de pé, foi ao chiqueiro das ovelhas, sangrou a mais bonita, comeu a
carne, e foi com a cuia de sangue para derramar no macaco. Ele estava vendo
tudo, deu-lhe com o pé, e o sangue caiu todo em riba da onça. Quando foi de
pra manhã, o dono da casa foi ao curral, e achou uma ovelha de menos, e
disse: "Sempre que a malvada da comadre dorme aqui, falta-me uma
criação!" Largou-se para casa, e já encontrou o macaco de pé e apontando
para a onça, que fingia que estava dormindo. O homem a viu toda suja de
sangue, e disse: "Ah! É você, sua diaba!" Deu-lhe um tiro e a
matou. O macaco comeu muito leite, e foi-se embora muito satisfeito.
|
Blog educacional com indicações de livros, conteúdos de Língua Portuguesa, Literaturas e Produção Textual, comentários e sugestões metodológicas.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Conto indígena
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário