Coerência e Coesão como Mecanismos para a Construção do Texto
2.1.1 coerência semântica
2.1.2 coerência sintática
2.1.3 coerência estilística
2.1.4 coerência pragmática
3.1.1 Coesão gramatical
3.1.2 Coesão lexical
Apresentação
Pretendemos, neste tema, trabalhando com os conceitos de
coerência e coesão, mostrar o papel e a importância de cada um desses
mecanismos não só para a leitura e a compreensão de textos como também para sua
produção.
A coerência e a coesão contribuem para conferir
textualidade a um conjunto de enunciados. Assim, a coerência, manifestada em
grande parte no nível macrotextual, é o resultado da possibilidade de se
estabelecer alguma forma de unidade ou relação entre os elementos do texto. E a
coesão, manifestada no nível microtextual, se refere ao modo como os vocábulos
se ligam dentro de uma seqüência.
Ao analisar esses mecanismos, mostramos, por meio de
exemplos, as formas em que podem ocorrer. Ao mesmo tempo, procuramos fazer com
que os usuários saibam empregar adequadamente cada mecanismo não só para
depreender o sentido de um texto como para produzir textos com sentido,
estabelecendo uma continuidade entre as partes, de modo a instaurar entre elas
uma unidade, ou seja, a coerência.
É importante também lembrar que a coesão pode auxiliar no
estabelecimento da coerência, embora, às vezes, a coesão nem sempre se
manifeste explicitamente através de marcas lingüísticas, o que faz concluir que
pode haver textos coerentes mesmo que não tenham coesão explícita.
Este tema será, portanto, desenvolvido com o objetivo de
mostrar aos usuários da língua que:
1) Mais importante que conhecer os conceitos de coerência
e coesão é saber de que maneira esses fenômenos contribuem para tornar um texto
inteligível;
2) A coerência (conectividade conceitual) e a coesão
(conectividade seqüencial) são requisitos fundamentais para a elaboração de
qualquer tipo de texto;
3) Enquanto a coerência se fundamenta na continuidade de
sentidos, a coesão pode se apresentar por meio de marcas lingüísticas,
observadas na gramática ou no léxico;
4) É necessário perceber como coerência e coesão se
completam no processo de produção e compreensão do texto.
Considerações sobre o conceito de coerência
No nosso dia-a-dia, são comuns comentários do tipo:
Isto não tem coerência.
Esta frase não tem coerência. O seu texto está incoerente. |
O que leva as pessoas a fazerem tais observações, provavelmente,
é o fato de perceberem que, por algum motivo, escapa a elas o entendimento de
uma frase ou de todo o texto.
Coerência está, pois, ligada à compreensão, à
possibilidade de interpretação daquilo que se diz ou escreve. Assim, a
coerência é decorrente do sentido contido no texto, para quem ouve ou lê. Uma
simples frase, um texto de jornal, uma obra literária (romance, novela,
poema...), uma conversa animada, o discurso de um político ou do operário, um
livro, uma canção, enfim, qualquer comunicação, independente de sua extensão,
precisa ter sentido, isto é, precisa ter coerência.
A coerência depende de uma série de fatores, entre os
quais vale ressaltar: o conhecimento do mundo e o grau em que esse conhecimento
deve ser ou é compartilhado pelos interlocutores; o domínio das regras que
norteiam a língua - isto vai possibilitar as várias combinações dos elementos
linguísticos; os próprios interlocutores, considerando a situação em que se
encontram, as suas intenções de comunicação, suas crenças, a função
comunicativa do texto.
Portanto, a coerência se estabelece numa situação
comunicativa; ela é a responsável pelo sentido que um texto deve ter quando
partilhado por esses usuários, entre os quais existe um acordo
pré-estabelecido, que pressupõe limites partilhados por eles e um domínio comum
da língua.
A coerência se manifesta nas diversas camadas da
organização do texto. Ela tem uma dimensão semântica - caracteriza-se por uma
interdependência semântica entre os elementos constituintes do texto. Tem
principalmente uma dimensão pragmática - é fundamental, no estabelecimento da
coerência, o nosso conhecimento de mundo, e esse conhecimento é acumulado ao
longo de nossa existência, de maneira ordenada.
Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo,
devemos dizer que a ele se acrescentam as informações novas. Se estas forem
muito numerosas, o texto pode se tornar incoerente devido a não-familiaridade
do ouvinte/leitor com essa massa desconhecida de informações. É isto que
acontece, por exemplo, quando lemos um texto muito técnico, de uma área na qual somos leigos.
Na verdade, quando dizemos que um texto é incoerente,
precisamos esclarecer que motivos nos levaram a afirmar isto. Ele pode ser
incoerente em uma determinada situação, porque quem o produziu não soube
adequá-lo ao receptor, não valorizou suficientemente a questão da
comunicabilidade, não obedeceu ao código linguístico, enfim, não levou em conta
o fato de que a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se
estabelecer um sentido para o texto.
Embora o objetivo não seja teorizar em demasia o conceito
de coerência, achamos necessário retomar algumas afirmações feitas por Koch e
Travaglia (1989), como pontos de partida para o trabalho com textos que se
segue: "A coerência é profunda, subjacente à superfície textual,
não-linear, não marcada explicitamente na estrutura de superfície. (...) Ela
tem a ver com a produção do texto, à medida que quem o faz quer que seja entendido
por seu interlocutor. (...) A coerência diz respeito ao modo como os elementos
subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores,
uma configuração veiculadora de sentidos. (...) A coerência, portanto, longe de
constituir mera qualidade ou propriedade do texto, é resultado de uma
construção feita pelos interlocutores, numa situação de interação dada, pela
atuação conjunta de uma série de fatores de ordem cognitiva, situacional,
sociocultural e interacional."
Observando o grupo de frases abaixo, consideradas do
ponto de vista estritamente referencial,
O homem construiu uma casa na
floresta.
O pássaro fez o ninho. O lenhador derrubou a árvore. O trabalhador acompanhou o noticiário criticamente. As árvores estão plantadas no deserto. A árvore está grávida. |
podemos notar que as quatro primeiras não oferecem
qualquer problema de compreensão. Dizemos, então, que elas têm coerência. Já
não ocorre o mesmo em relação as duas últimas. Em As árvores estão plantadas
no deserto, há duas ideias opostas, uma contraria a outra. Em A árvore
está grávida, há uma restrição na combinatória ser vegetal + grávida,
o que não ocorre em A mulher está grávida, em que temos a combinatória
possível ser racional + grávida.
Examinemos agora as frases:
a) O pássaro voa.
b) O homem voa.
A frase a tem um grau de aceitação maior do que a
frase b, que depende de uma complementação para esclarecer qual o meio
utilizado pelo homem para voar - O homem voa de asa delta, por exemplo.
A combinação de homem com voa tem outras significações no plano
da conotação: O homem sonha, o homem delira, o
homem anda rápido. Neste plano, muitas outras combinações são
possíveis:
As nuvens estão prenhes de chuva.
Sua boca cuspia desaforos.
Observe os três pares que se seguem:
a)
Todo mundo destrói a natureza menos eu.
b) Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo.
b) Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo.
a)
Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não.
b) Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar.
b) Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar.
a)
Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta sobrevive.
b) Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta não tem muitas árvores.
b) Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta não tem muitas árvores.
As
frases de letra a de cada par são facilmente compreendidas, têm
coerência.
As
frases de letra b de cada par apresentam problema de compreensão
1 a. Todo mundo destrói a
natureza menos eu.
|
o vocábulo menos indica
exclusão de uma parte do grupo, portanto, neste caso, pode ser combinado com
o pronome eu
|
1 b.Todo mundo destrói a natureza
menos todo mundo
|
há uma restrição, porque o
vocábulo menos indica exclusão de uma parte do grupo, portanto, neste
caso, não pode ser combinado com todo mundo, que indica o grupo
inteiro
|
2 a.Todo mundo viu o mico-leão,
mas eu não
|
mas introduz uma ideia oposta, que
é perfeitamente aceitável, porque todo mundo se diferencia de eu
|
2 b. Todo mundo viu o
mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar
|
mas introduz uma ideia oposta, que
é inaceitável porque o conteúdo da ideia introduzida por mas
não é o contrário da ideia anterior. Assim, a primeira parte Todo mundo
viu o mico-leão não pode ser combinada com eu não ouvi o sabiá cantar
por intermédio do vocábulo mas
|
3 a. Apesar de estarem
derrubando muitas árvores, a floresta sobrevive
|
o uso de apesar de
pressupõe a presença de ideias contrárias, qualquer que seja a ordem :
negativa/positiva, positiva/negativa
|
3 b. Apesar de estarem
derrubando muitas árvores, a floresta não tem muitas árvores
|
o uso de apesar de
pressupõe a presença de idéias contrárias, qualquer que seja a ordem:
negativa/positiva, positiva/negativa. Daí a incoerência da frase b, em
que ocorrem duas negativas simultâneas
|
Estas observações mostram que a coerência de uma frase,
de um texto, não se define apenas pelo modo como elementos lingüísticos se
combinam; depende também do conhecimento do mundo partilhado por emissor e
receptor, bem como do tipo de texto em questão. Podemos ainda dizer que, nas
frases de letra b, os elementos de coesão não foram usados de forma
adequada, por isto não contribuíram para estabelecer a coerência.
Assim como milhões de
brasileiros, os habitantes da Mata Atlântica estão sentindo na pele os
efeitos da crise econômica. As verbas são curtas, a fiscalização é pouca, e,
com isso, as leis de proteção nem sempre são respeitadas. Resultado: mesmo
sendo uma das mais importantes florestas tropicais do mundo - portanto,
essencial à sobrevivência do planeta - pouco a pouco a Mata Atlântica vai
desaparecendo do mapa.
|
O trecho acima mostra as dificuldades sentidas pelos
habitantes da Mata Atlântica como consequência da crise econômica. O sentido do
texto é viabilizado pela combinação dos elementos presentes numa progressão
harmoniosa. Observe como este sentido vai sendo construído a partir da
ocorrência de vocábulos relacionados entre si. Por exemplo:
milhões de brasileiros
habitantes |
mundo
planeta mapa |
curta
pouca |
Mata Atlântica
florestas tropicais |
importante
essencial |
proteção
sobrevivência |
verbo
fiscalização lei |
e
portanto (conectores) com isso |
|
Observe finalmente:
Se está difícil sobreviver aí na cidade, imagine aqui.
Numa primeira leitura, esta mensagem parece vaga: aqui
aponta para várias possibilidades de significação, entretanto cada uma elas
claramente se opõe a "cidade". Mas, se situarmos esta frase como
introdutória ao texto sobre a Mata Atlântica, o sentido fica mais explícito,
sobretudo se a frase for acompanhada da imagem de um habitante da Mata
Atlântica.
Tipos de Coerência
Em uma obra na qual discutem as estratégias cognitivas de
compreensão do discurso, Van Dijk e Kintsch (1983) falam de coerência local e
de coerência global. Enquanto a primeira se refere a partes do texto, a segunda
se refere ao texto como um todo. Embora já tenha sido dito anteriormente que a
coerência diz respeito à intenção comunicativa do emissor, interagindo, de
maneira cooperativa, com o seu interlocutor, acontece de, em um mesmo texto,
ocorrerem partes ou passagens com problemas de incoerências - incoerências
locais no caso - que acabam por perturbar a compreensão daquela passagem. A
presença de uma incoerência local pode não prejudicar a compreensão do texto,
mas é claro que assim não será se houver um grande número de problemas desse
tipo.
Ainda na obra citada, os autores apontam alguns tipos de
coerências, a saber, coerência semântica, coerência sintática, coerência
estilística, coerência pragmática.
Coerência Semântica
Refere-se à relação entre os significados dos elementos
das frases em seqüência; a incoerência aparece quando esses sentidos não combinam,
ou quando são contraditórios. Exemplos:
1)
... ouvem-se vozes exaltadas para onde acorreram muitos fotógrafos e
telegrafistas para registrarem o fato.
O uso do vocábulo telegrafista é inadequado
neste contexto, pois o fato que causa espanto será documentado por fotógrafos
e, talvez, por cronistas, que, depois, poderão escrever uma crônica sobre ele,
mas certamente telegrafistas não são espectadores comuns nessas circunstâncias.
Ao lado deste, há um outro problema, de ordem
sintática: trata-se do emprego de para onde, que teria vozes
exaltadas como referente, o que não é possível, porque esse referente não
contém idéia de lugar, implícita no pronome relativo onde.
Cabe ainda uma observação quanto ao tempo
verbal de ouvem-se e acorreram, presente e pretérito perfeito,
respectivamente. Seria mais adequado os dois verbos estarem no mesmo tempo.
2) O
governo principalmente não corresponde de uma maneira correta em relação ao
nível de condições que para muitos seriam uma decisão óbvia.
Nesta frase, há duas incoerências semânticas.
A primeira decorre do uso inadequado de corresponder - corresponder em
relação ao nível - que poderia ser substituído por responder, mas, mesmo
assim, o complemento teria que ser modificado, para resolver o problema da
incoerência sintática - corresponder a (alguma coisa). A segunda está na
expressão nível de condições. O vocábulo nível é desnecessário,
podendo-se dizer simplesmente em relação às condições.
3) Educação,
problema universal que por direito todo indivíduo deve ter acesso.
A inadequação, parece-nos, se deve ao fato de não ficar
claro qual é o antecedente do pronome que. Da maneira como foi
escrita a frase, o antecedente é problema universal, e, neste caso, a
incoerência semântica está na não-combinação entre os sentidos de ter acesso e problema.
Um problema precisa ser resolvido, solucionado, mas não ser alcançado, que é o
sentido de ter acesso. É muito mais provável que o autor desta frase tenha
pensado que todo indivíduo deve ter acesso à educação, mas, da forma como
ordenou as palavras, causou ambigüidade com relação ao antecedente do que.
Ainda dentro deste tipo de coerência,
lembramos que o pouco domínio do sentido dos vocábulos e das restrições
combinatórias pode também gerar frases com problemas de compreensão, como as
que seguem:
O jardim que circula a casa
estava maltratado.
Entramos em um círculo de
mudanças.
O rei quis obter as luxúrias
que sua posição oferecia.
...sendo este o dominador comum
das mudanças.
O Brasil é um país em
alta-rotatividade.
O que existe é um apontamento
dos erros do vestibular.
A televisão transmite lazer.
Não deu asas ao pensamento,
obviamente com medo de aferir a opinião dos outros.
Isto acontece quando você está
batendo uma conversa informal.
O quarto era o maior ambiente
do barraco.
Minhas suspeitas se atrapalham.
O sol deixa um rastro de cor
reflexada na água.
A audiência no Maracanã é
grande quando jogam Vasco e Flamengo.
... vencendo a oscilação que
repousava em sua mente.
Jamais fui a uma igreja seja
ela de qual raça ou costume.
O tempo nos proporciona muitos
sacrifícios.
O armário estava desarrumado,
com as gavetas afogadas de tantas roupas dispersivas.
|
Coerência Sintática
Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a
coerência semântica: conectivos, pronomes, etc. Exemplos:
1) Então
as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular. Onde há
métodos, equipamentos e até professores melhores.
A coerência deste período poderia ser
recuperada se duas alterações fossem feitas. A primeira seria a troca do
relativo onde, específico de lugar, para no qual ou em que
(ensino particular, no qual/ em que há métodos ...), e a segunda seria a
substituição do ponto por vírgula, de maneira que a oração relativa não
ocorresse como uma oração completa e independente da anterior. Teríamos a
seguinte oração, sem problemas de compreensão: Então as pessoas que têm
condições procuram mesmo o ensino particular, no qual há equipamentos e até
professores melhores.
2) Na
verdade, essa falta de leitura, de escrever, seja porque tudo já vem pronto,
mastigado para uma boa compreensão, não precisando pensar.
Há, nesta frase, vários problemas que
prejudicam a sua coerência. O primeiro é o não-paralelismo entre leitura (nome)
e escrever (verbo); seria desejável, por exemplo, dizer falta de ler, de
escrever, ou falta de leitura, falta de treino de escrita. Depois foi empregada
a conjunção seja, que geralmente se usa para apresentar mais de uma
alternativa: seja porque tudo já vem pronto, seja porque não há estímulo por
parte dos professores; usada isoladamente, ela perde o seu sentido
alternativo. Talvez o autor estivesse querendo dizer seja porque tudo já vem
mastigado; a elipse da conjunção na segunda expressão foi inadequada.
Percebemos, ainda, que o sujeito essa falta de leitura acabou não se
juntando a nenhum predicado, e a frase ficou fragmentada. Por último, não foi
explicitado o termo que pode preencher essa função.
3) O
papel preponderante da escola, que seria de formar e informar, principalmente
crianças e adultos, hoje não está alcançando esse objetivo.
Esta frase apresenta o seguinte problema: ela
é longa demais, por isso o predicado, muito distante do sujeito, acaba
discordando dele, não gramaticalmente, mas pela inadequação do vocabulário.
Pode-se dizer que há um cruzamento na estrutura da frase, o que causa uma
incoerência sintática.
O papel da escola
|
X
|
não está alcançando esse objetivo.
|
A escola
|
não está sendo cumprido.
|
(As frases usadas como exemplos foram produzidas por
alunos recém-ingressos na universidade.)
Coerência Estilística
Percebemos, pelos exemplos citados abaixo,
que este tipo de coerência não chega, na verdade, a perturbar a
interpretabilidade de um texto; é uma noção relacionada à mistura de registros
lingüísticos. É desejável que quem escreve ou lê se mantenha num estilo
relativamente uniforme. Entretanto, a alternância de registros pode ser, por
outro lado, um recurso estilístico.
Leia este poema de Manuel Bandeira:
Teresa, se algum sujeito bancar
o
sentimental em cima de você
e te jurar uma paixão do tamanho
de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA.
|
O autor procede como se estivesse falando, aconselhando
alguém, advertindo sobre uma possível "cantada". Há mistura de
tratamento (tu/você), mistura de registros, pois o autor utiliza várias
expressões da língua oral, como "do tamanho de um bonde", "se
ele se rasgar todo", "cai fora", ao mesmo tempo em que emprega o
futuro do subjuntivo, tempo mais comum num registro mais cuidado.
Agora leia este trecho, extraído de uma aula gravada:
... isso aí é um conceitozinho
um pouco maior, é que nós sabemos que os cloretos, por decoreba, aquele
negócio que eu falei, os cloretos e prata, chumbo são insolúveis, todos os
outros cloretos são solúveis. Agora pergunto: aquilo lá não é uma cascata
muito grande? Quando a gente agora está por dentro do assunto? O que o cara
quer dizer com solúveis, muito solúveis, pouco solúveis? Apenas um conceito relativo.
AgCl é considerado insolúvel porque o que fica de AgCl é um troço tão
irrisório que a gente não considera... Entendeu qual é a jogada? O que tem na
solução daqueles íons não vai atrapalhar ninguém. Você pode comer quilos
desse troço que a prata não vai te perturbar.
(Corpus do Projeto NURC/RJ - UFRJ- Informante: Homem, 31 anos, Professor de química numa aula para o terceiro ano do segundo grau.) |
Nesta exposição, chamada, dentro do corpus do
projeto, de elocução formal, o professor emprega uma grande variação de
registro, movendo-se todo o tempo entre o formal, para explicar o conceito de
solubilidade, e o informal, servindo-se de gírias (troço, cascata, estar por
dentro, jogada, decoreba, cara), talvez com o objetivo de tornar a explicação
menos pesada e a exposição mais interessante para os alunos, aproximando-se
deles ao usar essa maneira de falar. Portanto, nesta passagem, a mistura de
registros, sem causar incoerência, pode ter uma causa objetiva.
Coerência Pragmática
Refere-se ao texto visto como uma seqüência
de atos de fala. Para haver coerência nesta seqüência, é preciso que os atos da
fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez de
falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pessoa faz
uma pergunta à outra, a resposta pode se manifestar por meio de uma afirmação,
de outra pergunta, de uma promessa, de uma negação. Qualquer uma dessa
seqüência seria considerada coerente. Por outro lado, se o interlocutor não
responder, virar as costas e sair andando, começar a cantar, ou mesmo dizer
algo totalmente desconectado do tema da pergunta, estas seqüências seriam
consideradas incoerentes. Exemplo:
A: Você pode me dizer onde fica
a Rua Alice?
B: O ônibus está muito atrasado
hoje.
|
Piadas podem ser elaboradas a partir de incoerências:
No balcão da companhia aérea, o
viajante perguntou à atendente:
A - A senhorita pode me dizer
quanto tempo dura o vôo do Rio a Lisboa?
B - Um momentinho.
A - Muito obrigado.
|
Para quem fez a pergunta, não pareceu nem um
pouco incoerente a resposta obtida. Entretanto, a frase de B não é a resposta,
é simplesmente um pedido de tempo para depois dar atenção ao interlocutor A.
Nós é que percebemos a incoerência da seqüência e tomamos o conjunto como uma
piada.
Há ainda incoerências geradas a partir da
desobediência a articulações de conteúdo. Se você ouvir a frase Meu irmão
é filho único pode pensar que quem a pronunciou desconhece o sentido
dos vocábulos usados, pois a seqüência contém uma contradição. O sentido de irmão
inclui o fato de que esse indivíduo tem, pelo menos, uma irmã ou irmão.
E um último exemplo pode ser esta frase,
ouvida recentemente em um programa de televisão: "Me inclui fora
dessa." Parece que o emissor não conhece o sentido do verbo incluir,
que certamente não pode ocorrer combinado com fora. Ou então, usa
expressamente o advérbio fora para explicar sua intenção de não ser incluído
em algum projeto.
Texto e Coerência
Em outros temas desenvolvidos nesta série - O
texto narrativo (tema 6), O texto descritivo (tema 7), O texto dissertativo e a
argumentatividade (tema 8) -, mostramos como a coerência e a coesão ocorrem nos
diversos tipos de texto. Retomando este ponto, lembramos que cada tipo de texto
tem sua estrutura própria, por isso os mecanismos de coerência e de coesão
também vão se manifestar de forma diferente na superfície lingüística, conforme
se trate de um texto narrativo, descritivo ou dissertativo-argumentativo.
No texto narrativo, a coerência existe em
função, sobretudo, da ordenação temporal. Tomemos como exemplo o conhecido
poema A pesca, de Affonso Romano de Sant’Anna, em que não há elementos
coesivos. No entanto há coerência em função de uma seqüência temporal depreendida
não só da ordem em que foram colocados os substantivos, mas da escolha de
vocábulos de campos semânticos relacionados à pesca.
|
material
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peixe
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mar
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A história infantil A Casa Sonolenta, um
texto narrativo e descritivo, é mais um bom exemplo de como a seqüência é
fundamental para que se estabeleça a coerência textual.
Era uma vez
uma casa sonolenta
onde todos viviam dormindo
Nessa casa
tinha uma cama
uma cama aconchegante,
numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo.
Nessa cama
tinha uma avó,
uma avó roncando,
numa cama aconchegante,
numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo.
Em cima dessa avó
tinha um menino,
um menino sonhando,
em cima de uma avó roncando,
numa cama aconchegante,
numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo.
Em cima desse menino
tinha um cachorro,
um cachorro cochilando,
em cima de um menino sonhando,
em cima de uma avó roncando,
numa cama aconchegante,
numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo.
|
Em cima desse cachorro tinha um
gato
um gato ressonando,
em cima de um cachorro
cochilando,
em cima de um menino sonhando,
em cima de uma avó roncando,
numa cama aconchegante,
numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo.
Em cima desse gato
tinha um rato,
um rato dormitando,
em cima de um gato ressonando,
em cima de um cachorro
cochilando,
em cima de um menino sonhando,
em cima de uma avó roncando,
numa cama aconchegante,
numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo.
E em cima desse rato
tinha uma pulga...
Será possível?
Um pulga acordada,
que picou o rato,
que assustou o gato,
que arranhou o cachorro,
que caiu sobre o menino,
que deu um susto na avó,
que quebrou a cama,
numa casa sonolenta,
onde ninguém mais estava
dormindo.
|
A história se estrutura com base em dois momentos:
1º momento - todos estão dormindo.
2º momento - todos acordam, cada um por sua vez, movidos
pela ação da pulga.
A coerência, na primeira parte, se dá pela
escolha de vocábulos do campo semântico de dormir - cama, sonolenta,
aconchegante, roncando, sonhando, ressonando, dormitando, cochilando. Não houve
repetição de nenhum verbo, e cada um deles foi combinado coerentemente com cada
habitante da casa. O caráter descritivo desta parte se apóia em adjetivos
(caracterizando os seres inanimados) e verbos no gerúndio e pretérito
imperfeito (atribuídos aos seres animados).
A segunda parte do texto apresenta a mudança desencadeada
a partir da picada da pulga. Os verbos estão no pretérito perfeito, marcando a
ação finalizada.
casa sonolenta
|
casa acordada
|
dormindo
roncando sonhando ressonando cochilando viviam tinha |
picou
assustou arranhou caiu deu quebrou |
Lembramos ainda o título do conto de Carlos
Drummond de Andrade - Flor, telefone, moça. Os três vocábulos
juntos, aparentemente, não constituem título coerente para um conto. No
entanto, a coerência advém do próprio conto, que se resume na seguinte
história: uma moça, que tinha o costume de passear no cemitério, um dia, com um
gesto distraído, arrancou uma flor de um túmulo, machucou-a com as mãos e
depois jogou-a fora. A partir daí, passa a receber insistentes telefonemas
feitos por uma voz que reclama de volta a sua flor. A família se envolve,
tentando uma solução para os telefonemas que, a cada dia, deixam a moça mais
nervosa e sem apetite. O caso termina em tragédia. A moça, sem ânimo para coisa
alguma, acaba definhando e morrendo. Nunca mais houve telefonemas. Apenas os
fatos narrados no conto justificam a ordem em que os vocábulos foram
organizados no título.
No texto descritivo, a
coerência se estabelece, sobretudo, em função de uma ordenação espacial. Quem
descreve procura percorrer os detalhes daquilo que descreve, seja uma pessoa,
seja um cenário, seja um objeto, obedecendo a uma seqüência, com a finalidade
de auxiliar o leitor/ouvinte a compor o todo a partir dessas informações
parciais. No trecho abaixo, extraído de "Vidas Secas", temos uma
série de atos que, se alterada, prejudica a coerência do texto.
"(Sinhá Vitória)
Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher, acendeu o
cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio de sarro. Jogo longe uma
cusparada, que passou por cima da janela e foi cair no terreiro. Preparou-se
para cuspir novamente. Por uma extravagante associação, relacionou esse ato
com a lembrança da cama. Se o cuspo alcançasse o terreiro, a cama seria
comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, inclinou-se - e não
conseguiu o que esperava. Fez várias tentativas, inutilmente. O resultado foi
secar a garganta. Ergueu-se desapontada. Besteira, aquilo não valia.
Aproximou-se do canto onde o
pote se erguia numa forquilha de três pontas, bebeu um caneco de água. Água
salobra."
|
Com respeito a essa ordenação das informações
num texto descritivo, é interessante assinalar que a ordem em que são percebidos
os objetos ou os componentes de uma cena pode determinar a organização linear
das seqüências usadas para descrevê-los, como no parágrafo abaixo:
O homem estava sentado num
tamborete rústico, com os joelhos cruzados e a cabeça baixa. À sua direita havia
uma mesinha de desarmar, entulhada de lápis de vários tipos e cores, folhas
de papel em branco, borrachas, tesoura e um pouco de estopa. Havia ainda uma
tabuleta em cima da pequena mesa, apoiando-se na pilastra onde estavam
expostos seus trabalhos: fotografias coloridas de grandes personalidades e
caricaturas também de grandes personalidades.
(Wander Piroli, Trabalhadores do
Brasil)
|
Entretanto, isto pode não acontecer, ou seja, a ordenação
é feita a partir da seleção das informações julgadas relevantes, como no texto
abaixo:
A cerimônia esteve muito
concorrida. Presidiu o Presidente da República, que fez o discurso inaugural.
Foi preciso esperar meia hora pelo Primeiro Ministro, que chegou, como
sempre, atrasado e sorridente.
|
No texto dissertativo-argumentativo,
é muito importante para a coerência a ordenação lógica das idéias. As
possibilidades de correlacionar os argumentos decorrem dos operadores
lógico-discursivos empregados. Há conectores específicos para se expressar as
diferentes articulações sintáticas - causa, finalidade, conclusão, condição etc
- e eles devem ser usados adequadamente, de acordo com a relação que se quer
exprimir ao desenvolver uma argumentação. É ainda muito importante, com
respeito à coesão, uma combinação cuidadosa dos tempos verbais empregados.
Observe:
Depois que um rolo compressor
passou pelo cinema brasileiro, alijando-o intempestivamente do mercado, é bom
saber que existem fórmulas ao alcance de diretores, produtores, roteiristas e
artistas para retomar o diálogo. O mercado consumidor tem fôlego, mas tende,
por distorção natural, a se voltar para o filme estrangeiro. Precisa de boa
sacudida que o faça retomar o caminho de casa, desde que, evidentemente, o
produto da casa satisfaça suas expectativas.
|
Temos, neste parágrafo, os conectores mas
(idéia adversativa) e desde que (condição), que não podem ser
substituídos por conectores de outro sentido, sob pena de alterar o que se quer
expressar. As expressões “é bom saber, evidentemente” têm a finalidade
de introduzir e reforçar os argumentos. Finalmente, lembramos que o uso do
conector desde que pede o emprego do verbo no modo subjuntivo, tempo
presente, o que foi feito pelo autor do texto (desde que ... satisfaça).
O mesmo se verifica na frase anterior: Precisa de boa sacudida que o faça...
É importante, pois, escolher os conectores adequados, quando o objetivo é
argumentar de maneira coerente e coesa.
Considerações sobre o Conceito de Coesão
São muitos os autores que têm publicado
estudos sobre coerência e coesão. Apoiados nos trabalhos de Koch (1997), Platão
e Fiorin (1996), Suárez Abreu (1990) e Marcuschi (1983), apresentamos algumas
considerações sobre o conceito de coesão com o objetivo de mostrar a presença e
a importância desse fenômeno na produção e interpretação dos textos.
Koch (1997) conceitua a coesão como "o
fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos lingüísticos presentes na
superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos também
lingüísticos, formando seqüências veiculadoras de sentido." Para Platão e
Fiorin (1996), a coesão textual "é a ligação, a relação, a conexão entre
as palavras, expressões ou frases do texto." A coesão é, segundo Suárez
Abreu (1990), "o encadeamento semântico que produz a textualidade;
trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em
uma sentença A." Daí a necessidade de haver concordância entre o termo da
sentença A e o termo que o retoma na sentença B. Finalmente, Marcuschi (1983)
assim define os fatores de coesão: "são aqueles que dão conta da sequenciação
superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma língua que permitem
estabelecer, entre os elementos lingüísticos do texto, relações de
sentido."
A coesão pode ser observada tanto em enunciados mais
simples quanto em enunciados mais complexos. Observe:
1) Mulheres de três gerações enfrentam o preconceito e revelam suas experiências.
2) Elas
resolveram falar. Quebrando o muro de silêncio, oito
dezenas de mulheres decidiram contar como aconteceu o fato que marcou sua vida.
3) Do alto
de sua ignorância, os
seres humanos costumam achar que dominam a terra e todos os outros seres
vivos.
Nesses exemplos, temos os pronomes suas
e que retomando mulheres de três gerações e o fato,
respectivamente; os pronomes elas e sua antecipam oito dezenas
de mulheres e os seres humanos, respectivamente. Estes são apenas
alguns mecanismos de coesão, mas existem muitos outros, como veremos mais
adiante.
Vejamos agora a coesão num período mais complexo:
Os amigos que me restam são da
data mais recente; todos os amigos foram estudar a geologia dos
campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de
menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos
outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e
tal freqüência é cansativa.
(Machado de Assis, Dom Casmurro)
|
Observemos os elementos de coesão presentes neste texto.
No primeiro período, temos o pronome que
remetendo a amigos, que é o sujeito dos verbos restam e são,
daí a concordância, em pessoa e número, entre eles. Do mesmo modo, amigos
é o sujeito de foram, na oração seguinte; todos e os se
relacionam a amigos.
Já no segundo período, em que o autor
discorre sobre as amigas, os pronomes algumas, outras, todas
remetem a amigas; os numerais duas, três também remetem a amigas,
que, por sua vez, é o sujeito de datam, crêem, fariam, falam;
nela retoma a expressão na mocidade, evitando sua repetição; que
representa a língua. E, para retomar muita vez, o autor usou a expressão
sinônima tal freqüência.
Esses fatos representam mecanismos de coesão,
assinalando relações entre os vocábulos do texto. Outros mecanismos marcam a
relação de sentido entre os enunciados. Assim, os vocábulos mas (mas
a língua que falam), e (e quase todos crêem na mocidae, e tal
freqüência é cansativa) assinalam relação de contraste ou de oposição e de
adição de argumentos ou idéias, respectivamente. Dessa maneira, por meio dos
elementos de coesão, o texto vai sendo "tecido", vai sendo
construído.
A respeito do conceito de coesão, autores
como Halliday e Hasan (1976), em obra clássica sobre coesão textual, que tem
servido de base para grande número de estudos sobre o assunto, afirmam que a
coesão é condição necessária, mas não suficiente, para que se crie um texto. Na
verdade, para que um conjunto de vocábulos, expressões, frases seja considerado
um texto, é preciso haver relações de sentido entra essas unidades (coerência)
e um encadeamento linear das unidades lingüísticas presentes no texto (coesão).
Mas essa afirmativa não é categórica nem definitiva, por algumas razões. Uma
delas é que podemos ter conjuntos lingüísticos destituídos de elos coesivos
que, no entanto, são considerados textos porque são coerentes, isto é,
apresentam uma continuidade semântica, como vimos no texto "Circuito
Fechado", de Ricardo Ramos.
Um outro bom exemplo da possibilidade de
haver texto, porque há coerência, sem elos coesivos explicitados
lingüisticamente, é o texto do escritor cearense Mino, em que só existem
verbos.
Como se conjuga um empresário
Acordou. Levantou-se.
Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-se. Lanchou. Escovou.
Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu.
Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se.
Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou.
Conferiu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou.
Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou.
Depositou. Depositou. Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou.
Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou.
Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu.
Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou.
Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou.
Babou. Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou.
Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se.
Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou.
Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou.
Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu.
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se ...
|
Neste texto, a coerência é depreendida da
seqüência ordenada dos verbos com os quais o autor mostra o dia-a-dia de um
empresário. Verbos como lesou, burlou, explorou, safou-se
... transmitem um julgamento de valor do autor do texto em relação à figura de
um empresário.
Podemos constatar que "Como se
conjuga um empresário" não precisou de elementos coesivos para ser
considerado um texto. Por outro lado, elos coesivos não são suficientes para
garantir a coerência de um texto. É o caso do exemplo a seguir:
As janelas da casa foram
pintadas de azul, mas os pedreiros estão almoçando. A água da piscina parece
limpa, entretanto foi tratada com cloro. A vista que tenho da casa é muito
agradável.
|
Finalizando, vale dizer que, embora a coesão
não seja condição suficiente para que enunciados se constituam em textos, são
os elementos coesivos que dão a eles maior legibilidade e evidenciam as
relações entre seus diversos componentes. A coerência em textos didáticos,
expositivos, jornalísticos depende da utilização explícita de elementos
coesores.
Mecanismos de Coesão
São variadas as maneiras como os diversos
autores descrevem e classificam os mecanismos de coesão. Consideramos que é
necessário perceber como esses mecanismos estão presentes no texto (quando
estão) e de que maneira contribuem para sua tecitura, sua organização.
Para Mira Mateus (1983), "todos os processos
de sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação
lingüística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual
podem ser encarados como instrumentos de coesão." Esses instrumentos se
organizam da seguinte forma:
Coesão Gramatical
Faz-se por meio das concordâncias nominais e
verbais, da ordem dos vocábulos, dos conectores, dos pronomes pessoais de
terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos,
indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios
(aqui, ali, lá, aí), artigos definidos, de expressões de valor temporal.
De acordo com o quadro antes apresentado,
passamos a ver separadamente cada um dos tipos de conexão gramatical, a saber,
frásica, interfrásica, temporal e referencial.
Coesão Frásica -
este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa entre os componentes
da frase, com base na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o
sujeito e o verbo, entre o sujeito e seus predicadores, na ordem dos vocábulos
na oração, na regência nominal e verbal. Exemplos:
1)Florianópolis tem praias para todos os gostos,
desertas, agitadas, com ondas, sem ondas, rústicas, sofisticadas.
concordância nominal
praias
|
desertas, agitadas, rústicas,
sofisticadas
|
(subst.)
|
(adjetivos)
|
todos
|
os
|
gostos
|
(pron.)
|
(artigo)
|
(substantivo)
|
concordância verbal
Florianópolis
|
tem
|
(sujeito)
|
(verbo)
|
2) A voz de Elza Soares é um patrimônio da música
brasileira. Rascante, oclusiva, suingada, é algo que poucas cantoras, no mundo
inteiro, têm.
concordância nominal
voz rascante, oclusiva,
suingada
poucas cantoras
música brasileira
mundo inteiro
|
concordância verbal
voz é
cantoras têm
|
Com respeito à ordem dos vocábulos na
oração, deslocamentos de vocábulos ou expressões dentro da oração podem
levar a diferentes interpretações de um mesmo enunciado. Observe estas frases:
a) O barão admirava a bailarina que dançava com um
olhar lânguido.
A expressão com um olhar lânguido,
devido à posição em que foi colocada, causa ambigüidade, pois tanto pode se
referir ao barão como à bailarina. Para deixar claro um ou outro sentido, é
preciso alterar a ordem dos vocábulos.
O barão, com um olhar lânguido,
admirava a bailarina que dançava.
O barão admirava a bailarina
que, com um olhar lânguido, dançava.
|
b) A moto em que ele estava passeando lentamente saiu
da estrada.
A análise deste período mostra que ele é
formado de duas orações: A moto saiu da estrada e em que ele estava
passeando. A qual das duas, no entanto, se liga o advérbio lentamente?
Da forma como foi colocado, pode se ligar a qualquer uma das orações. Para
evitar a ambigüidade, recorremos a uma mudança na ordem dos vocábulos.
Poderíamos ter, então:
A moto em que lentamente ele
estava passeando saiu da estrada.
A moto em que ele estava
passeando saiu lentamente da estrada.
|
Também em relação à regência verbal, a
coesão pode ficar prejudicada se não forem tomados alguns cuidados. Há verbos
que mudam de sentido conforme a regência, isto é, conforme a relação que
estabelecem com o seu complemento.
Por exemplo, o verbo assistir é usado com a
preposição a quando significa ser espectador, estar presente,
presenciar. Exemplo: A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas de
samba. Entretanto, na linguagem coloquial, este verbo é usado sem a preposição.
Por isso, com freqüência, temos frases como: Ainda não assisti o filme que
foi premiado no festival. Ou A peça que assisti ontem foi muito bem
montada (ao invés de a que assisti).
No sentido de acompanhar, ajudar, prestar
assistência, socorrer, usa-se com proposição ou não. Observe: O médico assistiu
ao doente durante toda a noite.Os Anjos do Asfalto assistiram as
vítimas do acidente.
No que diz respeito à regência nominal,
há também casos em que os enunciados podem se prestar a mais de uma
interpretação. Se dissermos A liquidação da Mesbla foi realizada no fim do
verão, podemos entender que a Mesbla foi liquidada, foi vendida ou
que a Mesbla promoveu uma liquidação de seus produtos. Isso acontece
porque o nome liquidação está acompanhado de um outro termo (da
Mesbla). Dependendo do sentido que queremos dar à frase, podemos
reescrevê-la de duas maneiras:
A Mesbla foi liquidada no fim
do verão.
A Mesbla promoveu uma
liquidação no fim do verão.
|
Coesão Interfrásica
- designa os variados tipos de interdependência semântica existente entre as
frases na superfície textual. Essas relações são expressas pelos conectores
ou operadores discursivos.
É necessário, portanto, usar o conector adequado à
relação que queremos expressar. Seguem exemplos dos diferentes tipos de
conectores que podemos empregar:
a)
As baleias que acabam de chegar ao Brasil saíram da Antártida há pouco mais de
um mês. No banco de Abrolhos, uma faixa com cerca de 500 quilômetros de água
rasa e cálida, entre o Espírito Santo e a Bahia, as baleias
encontram as condições ideais para acasalar, parir e amamentar.
As primeiras a chegar são as mães, que ainda amamentam os filhotes nascidos há
um ano. Elas têm pressa, porque é difícil conciliar amamentação e
viagem, já que um filhote tem necessidade de mamar cerca de 100 litros
de leite por dia para atingir a média ideal de aumento de peso: 35
quilos por semana. Depois, vêm os machos, as fêmeas sem filhote e,
por último, as grávidas. Ao todo, são cerca de 1000 baleias que chegam a
Abrolhos todos os anos. Já foram dezenas de milhares na época do
descobrimento, quando estacionavam em vários pontos da costa brasileira.
Em 1576, Pero de Magalhães Gândavo registrou ter visto centenas delas na baía
de Guanabara.
b)
Como suas glândulas mamárias são
internas, ela espirra o leite na água.
c)
Ao longo dos meses, porém, a
música vai sofrendo pequenas mudanças, até que, depois de cinco anos, é
completamente diferente da original.
d)
A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o corpanzil em forma de arco e
desaparece um instante. Sua cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água
como se fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia dura segundos,
porém tão grande é a baleia que parece um balé em câmara lenta.
e)
Tão grande quanto as
baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou uma cópula de
jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas
alguns segundos.
f)
A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar. Como sua comida costuma
ficar na superfície, ela mergulha e nada em volta dos peixes, soltando
bolhas de água. Ao subir, as bolhas concentram o alimento num círculo. Em
seguida, a baleia abocanha tudo, elimina a água pelo canto da boca e
usa a língua como uma canaleta a fim de jogar o que interessa goela
adentro.
g)
Várias publicações estrangeiras foram traduzidas, embora muitas vezes
valha a pena comprar a versão original.
h)
Como guia de Paris, o livro é um embuste. Não espere, portanto,
descobrir através dele o horário de funcionamento dos museus. A autora faz uma
lista dos lugares onde o turista pode comprar roupas, óculos, sapatos, discos,
livros, no entanto, não fornece as faixas de preço das lojas.
i)
Se já não é possível espantar
a chicotadas os vendilhões do templo, a solução é integrá-los à paisagem da fé.
(...) As críticas vêm não só dos vendilhões ameaçados de ficar de fora, mas
também das pessoas que freqüentam o interior do templo para exercer
a mais legítima de suas funções, a oração.
j)
Na verdade, muitos habitantes
de Aparecida estão entre a cruz e a caixa registradora. Vivem a dúvida de
preservar a pureza da Casa de Deus ou apoiar um empreendimento que pode
trazer benesses materiais.
l)
A Igreja e a prefeitura estimam que o shopping deve gerar pelo menos
1000 empregos.
m)
Aparentemente boa, a infraestrutura da
Basílica se transforma em pó em outubro, por exemplo, quando num único
fim de semana surgem 300 mil fiéis.
n)
O shopping da fé também contará
com um centro de eventos com palco giratório.
Conectores:
e (exemplos a,d,f) - liga termos ou
argumentos.
porque (exemplo a), já que (exemplo a), como (exemplos b, f) - introduzem uma explicação ou justificativa.
para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) - indicam uma finalidade.
porém (exemplos c, d), mas (e) , embora (g) , no entanto (h) - indicam uma contraposição.
como (exemplo d) , tão ... que (exemplo d), tão ... quanto (exemplo e) - indicam uma comparação.
portanto (h) - evidencia uma conclusão.
Depois (a) , por último (a), quando (a), já (a), ao longo dos meses (c), depois de cinco anos (c), em seguida (f), até que (c) - servem para explicar a ordem dos fatos, para encadear os acontecimentos
porque (exemplo a), já que (exemplo a), como (exemplos b, f) - introduzem uma explicação ou justificativa.
para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) - indicam uma finalidade.
porém (exemplos c, d), mas (e) , embora (g) , no entanto (h) - indicam uma contraposição.
como (exemplo d) , tão ... que (exemplo d), tão ... quanto (exemplo e) - indicam uma comparação.
portanto (h) - evidencia uma conclusão.
Depois (a) , por último (a), quando (a), já (a), ao longo dos meses (c), depois de cinco anos (c), em seguida (f), até que (c) - servem para explicar a ordem dos fatos, para encadear os acontecimentos
então (d) - operador que serve para dar
continuidade ao texto.
se (exemplo i) - indica uma forma de condicionar uma proposição a outra.
não só...mas também (exemplo i) - serve para mostrar uma soma de argumentos.
na verdade (exemplo j) - expressa uma generalização, uma amplificação.
ou (exemplo j) - apresenta um disjunção argumentativa, uma alternativa.
por exemplo (exemplo m) - serve para especificar o que foi dito antes.
também (exemplo n) - operador para reforçar mais um argumento apresentado.
se (exemplo i) - indica uma forma de condicionar uma proposição a outra.
não só...mas também (exemplo i) - serve para mostrar uma soma de argumentos.
na verdade (exemplo j) - expressa uma generalização, uma amplificação.
ou (exemplo j) - apresenta um disjunção argumentativa, uma alternativa.
por exemplo (exemplo m) - serve para especificar o que foi dito antes.
também (exemplo n) - operador para reforçar mais um argumento apresentado.
Ainda
dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em que a
coesão se dá em função da seqüência do texto, da ordem em que as informações,
as proposições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando isto acontece,
ainda que os operadores não tenham sido explicitados, eles são depreendidos da
relação que está implícita entre as partes da frase. O trecho abaixo é um
exemplo de justaposição.
Foi em cabarés e mesas de bar
que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou mulheres, foi apresentado a
medalhões das artes e da política. Nos anos 20, trocou o Rio por longas
temporadas em São Paulo; em seguida foi para Paris. Acabou conhecendo
Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di Cavalcanti era
irreverente demais e calculista de menos em relação aos famosos e poderosos.
Quando se irritava com alguém, não media palavras. Teve um inimigo na vida. O
também pintor Cândido Portinari. A briga entre ambos começou nos anos 40.
Jamais se reconciliaram. Portinari não tocava publicamente no nome de Di.
(Revista VEJA, no
37,setembro/97)
|
Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica
explicitada: trata-se da oração "Quando se irritava com alguém, não
media palavras". Os demais possíveis conectores são indicados por
ponto e ponto-e-vírgula.
Coesão Temporal - uma
seqüência só se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados
estiver de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a
que o texto se refere, ou no qual o texto se insere. Se essa ordenação temporal
não satisfizer essas condições, o texto apresentará problemas no seu sentido. A
coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado dos tempos verbais,
obedecendo a uma seqüência plausível, ao uso de advérbios que ajudam a situar o
leitor no tempo (são, de certa forma, os conectores temporais). Exemplos:
A dita Era da Televisão é,
relativamente, nova. Embora os princípios técnicos de base sobre os quais
repousa a transmissão televisual já estivessem em experimentação entre
1908 e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a
amplificação eletrônica, somente na década de vinte chegou-se ao tubo
catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após várias experiências por
sociedades eletrônicas, tiveram início, em 1939, as transmissões
regulares entre Nova Iorque e Chicago - mas quase não havia aparelhos
particulares. A guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão
vertiginosa do novo veículo deu-se após 1945. No Brasil, a despeito de
algumas experiências pioneiras de laboratório (Roquete Pinto chegou a
interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só foi mesmo implantada em
setembro de 1950, com a inauguração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis
Chateaubriand. Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, já havia cerca de
cem estações, servindo a doze milhões de aparelhos. Existem hoje mais
de 50 canais em funcionamento, em todo o território brasileiro, e perto de 4
milhões de aparelhos receptores. [dados de 1971]
(Muniz Sodré, A comunicação do
grotesco)
|
Temos, neste parágrafo, a apresentação da
trajetória da televisão no Brasil, e o que contribui para a clareza desta
trajetória é a seqüência coerente das datas: entre 1908 e 1914, na década de
vinte, em 1939, Após várias experiências por sociedades eletrônicas, (época da)
guerra, após 1945, em setembro de 1950, nesse mesmo ano, hoje.
Embora o assunto neste tópico seja a coesão
temporal, vale a pena mostrar também a ordenação espacial que acompanha as
diversas épocas apontadas no parágrafo: nos Estados Unidos, entre Nova
Iorque e Chicago, no Brasil, em todo o território brasileiro.
Coesão Referencial - neste
tipo de coesão, um componente da superfície textual faz referência a outro
componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta referência são largamente
empregados os pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos
tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos. Exemplos:
a) Durante o período da
amamentação, a mãe ensina os segredos da sobrevivência ao filhote e é
arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a
cauda, ele também o faz.
ela, a -
retomam o termo baleiona, que,
por sua vez, substitui o vocábulo mãe.
ele - retoma o termo filhote
ele também o faz - o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.
ele - retoma o termo filhote
ele também o faz - o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.
b) Madre
Teresa de Calcutá, que em 1979 ganhou
o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho
com os destituídos do mundo, estava triste na semana passada. Perdera uma
amiga, a princesa Diana. Além disso, seus
problemas de saúde agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como sempre, na ativa. Já que
não podia ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um ato em memória
da princesa, em Calcutá, onde morava há quase setenta anos. Na noite de
sexta-feira, seu médico foi chamado
às pressas. Não adiantou. Aos 87 anos, Madre Teresa perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e frágil e sua vontade de ferro e morreu vítima de ataque
cardíaco. O Papa João Paulo II declarou-se "sentido e entristecido".
Madre Teresa e o papa tinham grande afinidade.
que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa.
princesa retoma a expressão princesa Diana.
papa retoma a expressão Papa João Paulo II.
onde refere-se à cidade de Calcutá.
princesa retoma a expressão princesa Diana.
papa retoma a expressão Papa João Paulo II.
onde refere-se à cidade de Calcutá.
Há ainda outros elementos de coesão, como Além disso, já
que, que introduzem, respectivamente, um acréscimo ao que já
fora dito e uma justificativa.
c) Em Abrolhos, as
jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se
reúnem em grupos de três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a direção
a seguir. Os machos vão atrás, na expectativa de ver se a fêmea cai na rede,
com o perdão do trocadilho,e aceita copular. Como há mais machos que fêmeas, elas copulam
com vários deles para ter certeza de
que engravidarão.
Neste exemplo, ocorre um tipo bastante comum de
referência - a anafórica. Os pronomes elas (que retoma jubartes),
ela (que retoma fêmea), elas (que se
refere a fêmeas) e deles (que se refere a machos)
ocorrem depois dos nomes que representam.
d) Ele foi o único sobrevivente
do acidente que matou a princesa, mas o guarda-costas
não se lembra de nada.
e) Elas estão divididas
entre a criação dos filhos e o desenvolvimento profissional, por isso,
muitas vezes, as mulheres precisam
fazer escolhas difíceis.
Nas letras d, e
temos o que se chama uma referência catafórica. Isto acontece porque os pronomes
Ele e Elas, que se referem, respectivamente a
guarda-costas e mulheres aparecem antes do nome que
retomam.
f) A
expedição de Vasco da Gama reunia o melhor que Portugal podia oferecer em
tecnologia náutica. Dispunha das mais avançadas cartas de navegação e levava
pilotos experientes.
Temos neste período uma referência por
elipse. O sujeito dos verbos dispunha e
levava é A expedição de Vasco da Gama, que não é
retomada pelo pronome correspondente ela, mas por elipse, isto é, a
concordância do verbo - 3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do
indicativo - é que indica a referência.
Existe ainda a possibilidade de uma idéia inteira ser
retomada por um pronome, como acontece nas frases a seguir:
a) Todos os detalhes
sobre a vida das jubartes são resultado de anos de observação de pesquisadores
apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse
vêm alcançando bons resultados.
O pronome esse retoma
toda a seqüência anterior.
b) Se ninguém tomar uma
providência, haverá um desastre sem precedentes na Amazônia brasileira.
Ainda há tempo de evitá-lo.
O pronome lo se
refere ao desastre sem precedentes citado
antes.
c)
A lei é um absurdo do começo
ao fim. Primeiro, porque permite aos
moradores da superquadra isolar uma área pública, não permitindo que os
demais habitantes transitem por ali. Segundo,
o projeto não repassa aos moradores o custo disso, ou seja, a responsabilidade pela coleta de lixo,
pelos serviços de água e luz e pela instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza pública seria
reduzida para os moradores. Além disso, a
aprovação do texto foi obtida mediante emprego de argumentos falsos.
Este texto apresenta diferentes tipo de elementos de coesão.
ali - faz referência a área pública, anteriormente
citada.
disso - retoma o que é considerado um absurdo dentro da nova
lei. Ao mesmo tempo, disso é explicado a partir do operador ou
seja.
ou seja, pelo contrário - conectores que
introduzem uma retificação, uma correção.
Além disso - conector que tem por
função acrescentar mais um argumento ao que está sendo discutido.
Primeiro e Segundo -
estes conectores indicam a ordem dos
argumentos, dos assuntos.
Coesão Lexical
Neste tipo de coesão, usamos termos que
retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram, porque existem entre eles
traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da coesão lexical, podemos
distinguir a reiteração e a substituição.
Por reiteração entendemos a repetição de expressões
lingüísticas; neste caso, existe identidade de traços semânticos. Este recurso
é, em geral, bastante usado nas propagandas, com o objetivo de fazer o
ouvinte/leitor reter o nome e as qualidades do que é anunciado. Observe, nesta
propaganda da Ipiranga, quantas vezes é repetido o nome da refinaria.
Em 1937, quando a Ipiranga
foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma refinaria brasileira dar
certo.
Quando a Ipiranga
começou a produzir querosene de padrão internacional, muitos afirmavam,
também, que dificilmente isso seria possível.
Quando a Ipiranga
comprou as multinacionais Gulf Oil e Atlantic, muitos disseram que isso era
incomum.
E, a cada passo que a Ipiranga
deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões que indicavam outra direção.
Quem poderia imaginar que a
partir de uma refinaria como aquela a Ipiranga se transformaria numa
das principais empresas do país, com 5600 postos de abastecimento anual de
5,4 bilhões de dólares?
E, que além de tudo, está
preparada para o futuro?
É que, além de ousadia, a Ipiranga
teve sorte: a gente estava tão ocupado trabalhando que nunca sobrou muito
tempo para prestar atenção em profecias.
(Revista VEJA, nº 37,
setembro/97)
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Outro exemplo:
A história de Porto Belo
envolve invasão de aventureiros espanhóis, aventureiros
ingleses e aventureiros franceses, que procuraram portos naturais,
portos seguros para proteger suas embarcações de tempestades.
(JB, Caderno Viagem, 25/08/93)
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A substituição é mais ampla, pois pode se efetuar por
meio da sinonímia, da antonímia, da hiperonímia, da hiponímia. Vamos ilustrar
cada um desses mecanismos por meio de exemplos.
Sinonímia
a) Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. João Paulo II decidiu visitar em janeiro a
ilha da Fantasia.
Os termos assinalados têm o mesmo referente.
Entretanto, é preciso esclarecer que, neste caso, há um julgamento de valor na
substituição de Cuba por ilha da Fantasia, numa alusão a lugar onde não há
seriedade.
b) Aos 26 anos, o zagueiro
Júnior Baiano deu uma grande virada em sua
carreira. Conhecido por suas inconseqüentes "tesouras voadoras",
ele passou a agir de maneira mais sensata,
atitude que já levou até a Seleção Brasileira.
Patrícia, a esposa, e os filhos Patrícia Caroline
e Patrick são as maiores alegrias desse baiano
nascido na cidade de Feira de Santana. "Eles são a minha razão de
viver e lutar por coisas boas", comenta o zagueiro.
Na galeria do ídolos, Júnior
Baiano coloca três craques: Leandro, Mozer a Aldair. "Eles sabem
tudo de bola, diz o jogador. O zagueiro da
Seleção só questiona se um dia terá o mesmo prestígio deles.
Deixando para trás a fase de desajustado e brigão, o zagueiro rubro-negro agora orienta os mais
jovens e aposta nesta nova geração do Flamengo.
Este tipo de procedimento é muito útil para evitar as
constantes repetições que tornam um texto cansativo e pouco atraente. Observe
quantas diferentes maneiras foram empregadas para fazer alusão à mesma pessoa.
Dentro desse parágrafo, observamos ainda outros mecanismos de coesão já vistos
anteriormente: sua, ele, o, que retomam o jogador
Júnior Baiano, e deles, que retoma
os três craques.
c) Como uma ilha entre as pessoas que se comprimiam no
abrigo do bonde, o homem mantinha-se concentrado no seu serviço. Era
especialista em colorir retrato e fazia caricatura em cinco minutos. No momento,
ele retocava uma foto de Getúlio Vargas,
que mostrava um dos melhores sorrisos do presidente
morto.
d) Vestia um camisolão azul, sem cintura. Tinha cabelos
longos como Jesus e barbas longas. Nos pés calçava sandálias para enfrentar o
pó das estradas e, a cabeça, protegia-a do sol inclemente com um chapelão de
abas largas. Nas mãos levava um cajado, como os profetas, os santos, os
guiadores de gente, os escolhidos, os que sabiam o caminho do céu. Chamava os
outros de "meu irmão". Os outros chamavam-no "meu
pai". Foi conhecido como Antonio dos Mares,
uma certa época, e também como Irmão Antonio. Os mais devotos o
intitulavam "Bom Jesus", "Santo Antonio".
De batismo, era Antonio Vicente Mendes Maciel. Quando fixou sua fama,
era Antônio Conselheiro, nome com o qual
conquistou os sertões e além.
Os vocábulos assinalados indicam a sinonímia
para o nome de Antônio Conselheiro.Por ser um parágrafo rico em mecanismos de
coesão, vale a pena mostrar mais alguns deles. Por exemplo, o sujeito de
vestia, tinha, calçava, levava, chamava, foi conhecido, fixou é sempre o mesmo,
isto é, Antônio Conselheiro, mas só ao final do texto esse sujeito é
esclarecido. Dizemos, então, que, neste caso, houve uma referência por elipse.
Chamavam-no e o intitulavam - os pronomes oblíquos
no e o retomam a figura de Antônio Conselheiro. Da mesma forma, o pronome a
(protegia-a) refere-se ao nome cabeça, e o possessivo sua (sua fama) tem como
referente o mesmo Antônio Conselheiro.
e) Depois do ciclo Romário, o Flamengo entra na era Sávio. Pelo menos é essa a intenção do presidente Kleber Leite. O dirigente nega a intenção do clube em fazer de
seu atacante uma moeda de troca.
"No ano passado me ofereceram US $ 9 milhões e mais o passe do Romário
pelo Sávio e eu não fiz negócio", lembrou. Segundo Kleber, o jogador
tem categoria suficiente para se transformar em um ídolo nacional.
Por falar em prata da casa, o presidente do
Flamengo, apoiado por Zico, vai apostar nos jovens valores do clube
para o segundo semestre. Ele acha que, mantendo a base, com Sávio, Júnior
Baiano, Athirson, Evandro e Lúcio, o time rubro-negro terá condições de chegar
às finais do Campeonato Brasileiro e Supercopa.
As expressões assinaladas em azul se referem
à mesma pessoa. Na verdade, temos em dirigente um
sinônimo de fato, enquanto as outras substituições podem ser chamadas de
elipses parciais, embora todas remetam ao presidente do clube carioca.
Existe igualmente sinonímia entre Sávio,
atacante e jogador.
f)
Penando para tentar reduzir a conta dos direitos e benefícios dos
trabalhadores, todo governante europeu hoje em dia baba de inveja dos
Estados Unidos - o país do cada um por si e o governo,
de preferência, bem longe dessas questões.
Pois foi justamente na terra do vale-tudo entre
patrão e empregado que 185000 filiados de um sindicato cruzaram os
braços neste mês e pararam por quinze dias a UPS, a maior empresa de entregas
terrestres do mudo.
Não podemos deixar de apontar que, neste exemplo, os
sinônimos escolhidos para Estados Unidos se revestem de um juízo de valor, são
denominações de caráter pejorativo.
Antonímia
- É a seleção de expresões lingüísticas
com traços semânticos opostos. Exemplos:
a) Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais belas paisagens catarinenses.
Hiperonímia e Hiponímia - Por hiperonímia
temos o caso em que a primeira expressão mantém com a segunda uma relação de
todo-parte ou classe-elemento. Por hiponímia designamos o caso inverso: a
primeira expressão mantém com a segunda uma relação de parte-todo ou elemento-classe.
Em outras palavras, essas substituições ocorrem quando um termo mais geral - o
hiperônimo - é substituído por um termo menos geral - o hipônimo, ou
vice-versa. Os exemplo ajudam a entender melhor.
a)
Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano
presenciou uma cópula de jubartes, mas
sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas alguns segundos.
b) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem
em grupos de três a oito animais, sempre
com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade
e a direção a seguir.
c)
Dentre as 79 espécies de cetáceos, as jubartes
são as únicas que cantam - tanto que são conhecidas também por
"baleias cantoras".
d)
A renda de bilro é a mais conhecida e criativa forma de artesanato catarinense.
e)
O litoral norte de Santa Catarina tem um verdadeiro festival de
localidades famosas: a praia de Camboriu, a ilha de São Francisco do Sul, a enseada do Brito.
f)
Dado que, entre os
assentados, é expressivo o número de analfabetos, pode-se ter uma idéia de
quanto é difícil elaborar um projeto ou usar novas tecnologias. Com pouco
dinheiro e escassa assistência, eles costumam usar sementes de qualidade
baixa e voltar-se para a produção de consumo familiar. Mesmo entre os instrumentos de trabalho mais corriqueiros,
também há escassez brutal, e a maioria dos assentados não dispõe nem
mesmo de uma pá ou de uma picareta. Entre eles, ainda que os
sem-terra tenham escolhido a foice como
um dos seus símbolos de luta pela reforma agrária, o instrumento mais
comum ainda é a velha enxada.
Hiperônimos
(termos mais gerais) |
Hipônimos
(termos mais específicos) |
baleias
animais
cetáceos
artesanato
litoral norte
instrumentos
|
jubartes
jubartes
baleias
renda de bilro
praia, ilha, enseada
pá, picareta, foice, enxada
|
Vale a pena apontar também a coesão lexical por
sinonímia, entre assentados e sem-terra (exemplo f) e entre jubartes e baleias
cantoras (exemplo c). Os pronomes eles
(caso reto) e se (caso oblíquo) são
exemplos de coesão gramatical referencial, pois remetem aos assentados.
Coerência e Coesão
Seu Papel na Compreensão e Produção de Textos:
Neste último item, nosso objetivo é mostrar como o
trabalho com os mecanismos de coerência e coesão é necessário para a atividade
de compreensão e produção de textos. Este trabalho não deve se ater ou se
restringir aos nomes e definições de cada mecanismo, isto não seria de grande
proveito. É preciso, acima de tudo, mostrar aos alunos como devem, ao produzir
seus textos, lidar com a coerência e a coesão.
Como afirma Koch (1990), "um professor pode
fazer grandes modificações em sua metodologia de ensino de produção e
compreensão de textos, baseando-se nas descobertas da Lingüística Textual sobre
coesão e coerência, sem fazer qualquer referência teórica sobre o assunto para
seus alunos de 1º e 2º graus."
Às vezes, a grande preocupação do ensino de
língua portuguesa é fazer com que os alunos decorem, por exemplo, uma
interminável lista de conjunções, as coordenativas e as
subordinativas. É muito mais produtivo eles entenderem o sentido
das conjunções, sua função argumentativa, as relações que estabelecem entre as
idéias como uma forma de evitar os períodos incoerentes do ponto de vista
sintático e semântico.
Outro assunto que também é trabalhoso no
ensino de língua portuguesa diz respeito à pontuação. São extremamente comuns
as queixas não sei pontuar, não sei usar vírgulas, etc. Seria,
talvez, mais proveitoso aliar o ensino da pontuação ao ensino dos mecanismos de
coerência e coesão, mostrando a importância da pontuação para o estabelecimento
do sentido do texto. Assim como podemos usar conectores e outros elementos de
coesão para articular vocábulos ou orações e indicar as relações existentes
entre eles, os sinais de pontuação também contribuem para a "costura"
do texto. Observe o trecho abaixo, extraído de uma reportagem sobre o pintor Di
Cavalcanti.
Nas vacas magras, ia de cerveja
a cachaça. Nunca ficava bêbado. Tinha um poder enorme sobre o copo. Bebia,
depois deitava, lia, relaxava. (Revista VEJA, nº 37, julho/97)
|
Temos um período formado de quatro orações, separadas por
ponto. Embora não haja conectores gramaticais explícitos, percebemos de que
forma essas orações se combinam, formando uma seqüência. Entretanto, se
quiséssemos usar conjunções e outros coesores, poderíamos reescrever esse mesmo
período da seguinte maneira:
Nas vacas magras, ia de cerveja
a cachaça, porém (entretanto, mas, contudo) nunca ficava bêbado, pois
(porque, visto que, dado que) tinha um poder enorme sobre o copo, isto é,
bebia, depois deitava, lia, descansava.
|
Esta reescritura serve para mostrar o sentido
das conjunções empregadas, sua adequação ao transmitir as relações entre as
orações, e, sobretudo, a possibilidade de substituir os pontos por conectores
explícitos antecedidos de vírgulas. Observamos ainda que essa forma de escrever
(sem as conjunções) pode ser marca de um estilo, estando de acordo com as
intenções e preferências do autor do texto.
Na atividade de produção de textos,
percebemos que, muitas vezes, os problemas mais graves advêm das falhas na
estruturação da frase, da incoerência das idéias, da ausência de unidade e
encadeamento lógico dos argumentos. Daí a necessidade de saber lidar com a
coerência e a coesão, mostrando como cada uma delas contribui para a elaboração
de um bom texto.
Muitas vezes, o cuidado maior, por parte dos
professores, é com a correção gramatical, como se ela fosse a qualidade mais
importante do texto. Lembramos aqui as sempre atuais colocações de Othon M.
Garcia (1973): "uma composição pode estar absolutamente correta do ponto
de vista gramatical e revelar-se absolutamente inaproveitável." Mais
adiante continua: "Quando o estudante aprende a concatenar as idéias e
estabelecer suas relações de dependência, expondo seu pensamento de modo
claro, coerente e objetivo, a forma gramatical vem com um mínimo de erros que
não chegam a invalidar a redação. E esse mínimo de erros se consegue evitar com
um mínimo de ‘regrinhas’ gramaticais."
Há, nos estudos sobre coerência e coesão, uma
posição comum quanto à íntima relação entre esses dois mecanismos na produção e
compreensão de textos. Vimos que a coesão não garante a coerência, embora
concorra para que esta se estabeleça. Charolles (1986) é muito claro quando
afirma que "o uso dos mecanismos coesivos tem por função facilitar a
interpretação do texto e a construção da coerência pelos usuários.
No entanto, eles [os mecanismos coesivos]
podem produzir incoerências: como possuem, por convenção, funções específicas,
não podem ser usados sem respeitar tais convenções. Se isto acontecer, isto é,
se o seu uso contrariar a sua função, o resultado será a incoerência ou a falta
de seqüencialidade de modo que o leitor/ouvinte não será capaz de construir a
interpretação adequada."
Finalmente, é bom lembrar que, se o professor
quer que seus alunos produzam textos coerentes e coesos, pode, em primeiro
lugar, mostrar a presença desses mecanismos em textos literários,
não-literários, jornalísticos, publicitários. Desta forma, vai familiarizar seu
público com essas novas aquisições lingüísticas. Nesta etapa, os alunos vão
perceber que fazem parte da língua elementos que têm a função de estabelecer
relações textuais. Trata-se de processos de seqüencialização que asseguram uma
ligação entre os elementos lingüísticos formadores do texto - são os chamados recursos
de coesão textual ou instrumentos de coesão.
Só então os alunos passariam a desenvolver a sua própria
produção. Muitas vezes, não basta dizer que o texto do aluno é incoerente; é
preciso mostrar onde estão os problemas e, sobretudo, como podem ser
resolvidos.
Indicações Bibliográficas
ABREU, Antonio S. Curso de redação. São Paulo,
Ática, 1990.
ANTUNES, Irandé C. Aspectos da coesão do texto.
Recife, Editora da UFPE, 1996.
CUNHA, Celso F. e CINTRA, L. F. Lindley. Gramática do
português contemporâneo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985
FÁVERO, Leonor L. Coesão e coerência textuais. São
Paulo, Ática, 1991.
FIORIN, José L. e SAVIOLI, Francisco P. Lições de
texto: leitura e redação. São Paulo, Ática, 1996.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio
de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1973.
HALLIDAY, M.A.K. e
HASAN, R. Cohesion in English. Londres,
Longman, 1976.
KOCH, Ingedore V. O texto e a construção dos sentidos.
São Paulo, Contexto, 1997.
------------------------- A coesão textual. São
Paulo, Contexto, 1990.
KOCH, Ingedore V. e TRAVAGLIA, Luiz C. Texto e
coerência. São Paulo, Cortez, 1989.
-------------------------------------------------------- A
coerência textual. São Paulo, Contexto, 1990.
MIRA MATEUS, M. Helena et alii. Gramática da língua
portuguesa. Coimbra, Livraria Almedina, 1983.
VAN DIJK, T.A. e
KINTSCH, W. Strategies in discourse comprehension. New York, Academic
Press, 1983.
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